quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Cheiro da infância




Hoje senti o cheiro da infância. O cheiro da terra molhada, o cheiro de corridas e gargalhadas por entre ervas e penhascos. É tão nostálgico voltar à infância. Voltar a ser a menina despreocupada que só queria brincar e apanhar flores. Que gostava de subir as árvores para colher figos ou esconder-se atrás dos arbustos para assustar o irmão. Que apanhava ramos para serem batatas fritas e ficava horas a fio a saltar à corda na rua. Ou montada na sua bicicleta, explorava qualquer caminho que a levasse a um lugar desconhecido. A alegria de sentir a aragem no rosto ou a sensação de meter uma azeda na boca. Lembro-me de amuar quando o sol começava aos poucos a desaparecer, pois era sinal de regresso a casa. E isso implicava não sentir a terra nas mãos, não sentir o vento na cara, não ouvir o som dos pássaros, nem sentir o cheiro da relva. De noite tudo era chato, o silêncio, o estar em casa, a escuridão.
Recordo-me de olhar através da janela desejando alvorecer, para de novo poder sair e brincar e correr e saltar. Relembro-me dos tempos em que um dói-dói passava com beijinhos, em que uma moeda era uma fortuna e um tubo de bolas de sabão era tudo. Acho que cada vez mais isso se está a perder. Cada vez mais as crianças gostam de estar fechadas, centradas nos seus jogos virtuais ou a ver televisão o dia inteiro. Aborrece-lhes saltar, desagrada-lhes correr, maça-lhes qualquer movimentação física.
Oh geração com astúcia nos dedos! Cada vez mais informados, com mais acesso a qualquer ideia ou fonte de pesquisa. E não exploram. E não procuram. E não têm curiosidades. Pirralhos e pirralhas que já querem escolher a roupa que vestem. Eu, quando miúda, só queria algo que não me impedisse de correr. Miúdos e miúdas que têm mais engenho a mexer em telemóveis do que muitos adultos. Chavalos e chavalas que não sabem brincar às escondidas, à apanhada, à macaca e ao lencinho. Gaiatos e gaiatas que não sabem jogar ao pião, ao berlinde, ao jogo do elástico ou saltar à corda. Meninos e meninas que não sabem o que é jogar ao jogo do galo (nas aulas aborrecidas) para passar o tempo. Agora passam a aula inteira em sms's e instagram's , facebook's e hashtag's. Os fins de semana são passados no PC ou tablet, xbox ou TV. Tudo passa por comprar algo para os tornar felizes. Tudo tem um preço. Não sabem inventar as suas próprias brincadeiras. Cada vez mais dependem do consumismo para serem felizes.
Na minha meninice construíamos estradas com seixo e raminhos, fabricávamos jogadores de futebol com caricas e cartão e arquitetávamos edifícios com cordas e madeira. Na minha infância, contentávamo-nos com tão pouco. Hoje em dia acho que não se contentam com nada. 
Hoje, senti saudades da minha infância. Resta-me a reminiscência de momentos tão bem passados. É uma riqueza incalculável ter lembranças tão felizes na nossa memória. É algo que está tão distante no tempo mas permanece tão presente em nós. Aquilo que já fomos, que passámos, que cheirámos, que nos tornámos. Há cheiros que permanecem e estão comigo até hoje. O cheiro do perfume da professora da primária, da casa da minha avó, o cheiro dos bolos de domingo, dos sofás da tia rosa e dos dias de pesca com a família. Tudo isso me leva de volta ao passado. E por mais que o tempo passe, esse cheiro (o cheiro da infância) irá perdurar para sempre na minha memória.


Soraia Silva

domingo, 23 de novembro de 2014

Planos de domingo



Tenho frio, chega-te mais perto. Aninha-te no meu colo mesmo que o teu olhar esteja preso à televisão.O meu prende-se em cada frase deste livro. No entanto, estou simultaneamente focada em ti. Aninha-te que afago-te a cabeça. Deslizo os meus dedos por entre os teus cabelos, como tu gostas. Beijo-te as mãos e uso o calor de um sopro para as aquecer. Esboço um sorriso. Porém, não retiro o olhar desta página. Sentes o meu nariz gelado e beijas o na esperança que, com o amor que nele transmites, o aqueças de algum modo. Não resulta, apesar dos romantismos, e resolves acender a lareira. Como adoro observar-te. De volta de lenha e acendalhas, há algo que desperta em mim. Talvez seja o reflexo da chama estampada nos teus olhos. Não sei. Preparo-te o conforto de uma chávena quente que seguras entre as mãos. Resolves partilhá-la comigo. Entre brincadeiras e cócegas, paralisas e fixas-me o olhar. Não dizes nada e eu também não. Com o olhar dizes-me tudo e acho que neste momento vês o fogo através do meu. Já não tenho frio. Estou quente com o amor que sinto por ti. Acordamos com o som da chávena a partir-se. Não consigo sequer dizer se caiu das tuas mãos ou das minhas. Neste momento só te sinto a ti. Sinto a tua respiração no meu pescoço e a tua mão forte na minha nuca. Com a outra procuras junto à lareira, a manta que dobrei esta tarde. Estendes a no chão e dizes que não há melhor ninho de amor. E não há. Um domingo chuvoso, uma lareira e a tua companhia. Hoje, é tudo o que eu preciso.

Soraia Silva

sábado, 22 de novembro de 2014

Para ti...



Há pessoas e pessoas. E depois há "a" pessoa. Aquela que se destaca de entre todas as outras. Que nas suas atitudes e ações consegue nos dar uma lição e mostrar que a nossa maneira de pensar está errada. Que sempre há um outro ponto de vista, sempre há o reverso da moeda. Com o teu exemplo, e sem uma única palavra, um único conselho, ensinaste-me que não devo cobrar aos outros o que eu espero que eles façam. Simplesmente devo fazer o que, para mim, acho certo. Não devo mudar as minhas atitudes pelo desleixo dos outros, não devo deixar de fazer porque os outros não fazem. Acima de tudo que devo ser fiel a mim mesma e não perder a minha essência na confusão dos outros. Que não devo perder o meu sorriso nem o meu brilho próprio e muito menos que isso afecte a minha disposição ao longo do dia. Contigo aprendi a ser mais serena, mais ponderada, menos exigente com os outros mas sempre exigente comigo. Porque é assim que eu sou. És uma das pessoas que eu mais admiro. Se há sempre algo de bom que devemos retirar das nossas experiências na vida, sem dúvida que, neste trabalho, tu és esse algo. Esse alguém que irei levar como exemplo. Obrigado por me teres recebido tão bem na equipa, por te prontificares sempre a ajudar-me e acima de tudo por seres tu próprio. És o melhor arquétipo de uma pessoa boa. Mantém esse sorriso contagiante e essa disposição. Pode estar o maior reboliço ao teu lado que tu manténs-te autêntico. E esse é o melhor ensinamento que me deste. Hoje não digo, mas escrevo, o que gostaria de já te ter dito há tempos: Gosto muito de ti "bekinhas".

Soraia Silva

Comunicação



No meu trabalho ouço muitas vezes dizer que há falta de comunicação entre as pessoas. Que nós, equipas não sabemos comunicar. Na minha opinião, quem o diz, não se sabe expressar corretamente. Não há falta de comunicação. As pessoas simplesmente comunicam sobre os temas que querem. As equipas sabem comunicar. Apenas temas do seu interesse. É engraçado como a rapidez de um boato se espalha a uma velocidade astronómica, mas uma simples passagem de trabalho perde-se pelo meio e não chega tão pouco ao seu destino. As pessoas canalizam a sua energia apenas naquilo que lhes interessa. E irónico é, que no trabalho tudo interessa mais que o próprio trabalho. Não se conseguem focar no que é pretendido (trabalhar) e deixar a "conversa de café" para os momentos de lazer. Todos os dias ouço comentários tipo: "Viste o que se passou ontem na casa dos segredos?", "Soubeste da discussão da Maria e da Joana aqui na loja?", "Sabes que a Maria e o Manel tão a namorar?" , e podia continuar a enumerar a vida alheia de toda a gente pois é o tema que mais se fala. A vida dos outros. Em tantos temas de conversa que se pode ter, a dita "fofoquice" é o tema preferido do pessoal. E atenção, para quem gosta de catalogar as mulheres como as rainhas do tema, tenho a dizer que muitos homens me têm deixado de boca aberta. Imensa é a capacidade deste género a participar em tais conversas, e mesmo a gerar os ditos boatos. Concluindo, não existe falta de comunicação entre ninguém, toda a gente tem essa capacidade. Simplesmente, apenas a usam para o que lhes convém. E é triste não a usarem em primeiro lugar para o trabalho. Muita coisa correria melhor. Se houvesse comunicação em vez de intrigas, ajuda em vez de críticas, trabalho em vez de preguiça, preocupação em vez de desleixo e atitude em vez de palavras. Haveria certamente uma enorme mudança. Lembrem-se que independentemente do trabalho que tenham, gostem ou não gostem, ganhem bem ou não. O ordenado que a vossa empresa vos paga leva pão todos os dias para a vossa mesa. A casa onde dormes é paga pela vossa empresa. Para os meninos que ainda não sabem o que é pagar contas: o vosso ordenado é que compra o vosso "swag", para todos os que têm vícios: é o vosso ordenado que os compra. Muitos ganham esse ordenado com o suor do trabalho, outros nem tanto. E normalmente quem mais se queixa é quem menos razão tem para o fazer. Irónico não é? 

Soraia Silva

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

(Re)Encontro



Hoje perguntaram-me: "Você já desejou ter uma segunda chance de conhecer alguém novamente, pela primeira vez?". A minha resposta, automaticamente a pensar em ti, foi, sem dúvida que sim. Sim. Desejaria estar novamente na gare dos comboios onde nos conhecemos. Poder olhar para ti pela primeira vez, depois de toda a ansiedade que antecedeu a esse momento.
Depois da azáfama toda à cerca da escolha do vestuário. Sim. Passei quase uma hora a experimentar o meu guarda roupa inteiro, na esperança de encontrar a tal combinação perfeita, que te fizesse olhar para mim como nunca olhaste para mais ninguém. Queremos sempre nos destacar, ser as mais bonitas, estar o melhor possível. Com o tempo essa preocupação vai-se desvanecendo.
Antes de sair de casa, olhei-me mil e uma vezes ao espelho. E no caminho para a gare umas tantas outras vezes. No minúsculo espelho que trago na mala, ou em qualquer vidro que refletisse a minha imagem. Chegou ao seu destino, ouvi eu. Por fim lá estavas tu. Não como eu imaginei. Melhor. Se é que isso era possível. Algo em mim congelou naquele momento e ao mesmo tempo sentia a minha cara a ferver. Tinha noção que os meus olhos estariam a brilhar naquele momento. Sentia sem dúvida tu a mexeres no meu íntimo. Sentia-me a tremer.
Quando me dirigi a ti a minha voz embargou. Não sei se chegaste sequer a notar. Aclarei a voz e apresentei-me. Ah! Aqueles minutos, aqueles primeiros minutos é algo que jamais irei sentir novamente. Pelo menos contigo. Posso até ter outras sensações, outros momentos que mexam e agitem o meu íntimo. Mas aqueles minutos que se sucederam ,esses, jamais sentirei com a mesma intensidade. A sensação do nosso primeiro beijo quase me eletrizou. Quando senti o toque da tua mão pela primeira vez, o meu corpo desenvolveu uma onda energética que já há muito não sentia. O calor da tua respiração arrepiou-me a espinha e enfraqueceu-me as pernas. Ah! Por essa sensação única da primeira vez, sim. Eu passaria por tudo outra vez só para voltar a sentir o que senti nesse dia.

Soraia Silva

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Saudade



Hoje acordei com a sensação de que viajei no tempo. Às vezes seria bom podermos voltar atrás, voltar a estar num certo lugar, poder reviver memórias boas que tivemos, poder alterar coisas menos boas que passámos. Abraçar quem já perdemos, dizer-lhes mais uma vez o quanto as amamos e a falta que nos fazem no presente. Hoje acordei com saudades da minha avó. E como seria bom poder voltar a ouvir o riso dela, a sua voz. A sentir a mão dela a afagar-me o cabelo. Ouvir mais uma vez os conselhos sábios que me acompanham até hoje. Tenho muito orgulho na pessoa que ela foi, nos valores que me transmitiu e no grande exemplo de mulher que ela foi para mim. Para muita gente da sua geração ela era muito "pa frentex" (expressão utilizada por ela), tinha uma mente aberta, não tinha preconceitos, raramente se queixava. Estava sempre pronta para um passo de dança ou uma boa caminhada. Adorava viajar. Como ela dizia, temos de aproveitar enquanto cá estamos porque um dia seremos apenas uma lembrança. E és avó velhinha, a minha melhor lembrança. A minha guerreira, o meu exemplo, a minha força todos os dias. Se eu pudesse escolher o meu momento de voltar atrás no tempo, seria certamente para te dar um último abraço, um último beijo e dizer uma última vez que te amo.

Soraia Silva




Um café e um amor...



Está frio, agasalha-te. Vem para dentro e senta-te ao pé de mim. Aconchega-te que eu deixo-te estar. Deixa-me ser tua que eu deixo-te ficar.
Hoje preparo eu o café. Hoje não me importa o programa antes de dormir. Apenas quero a tua companhia. Hoje apenas quero sentir-te perto. Sentir a tua respiração na minha nuca e o calor do teu corpo nas minhas costas.Que me escutes se eu falar, que me olhes se eu te atentar.
Hoje gostava que me adivinhasses os pensamentos, pelo menos os que são dirigidos a ti. Que me conhecesses o íntimo e ouvisses o que eu digo em silêncio. Que te antecipasses aos gestos e me surpreendesses porque sim. Porque o inesperado é melhor, porque o imprevisível nos faz sair do monótono.
Hoje bastas-me tu. Tu e um abraço, tu e um beijo. O café já está feito. Ainda demoras?

Soraia Silva




domingo, 16 de novembro de 2014

Gosto de andar em bicos dos pés



Gosto de andar em "bicos dos pés" para não ouvir ruído. Para que não me ouçam os passos e não decifrem a intensidade do meu andar. Há dias que gostava de poder passear e sentir-me invisível aos olhos da população. Dias em que queria somente sentir o vento na cara, ouvir os ruídos da natureza (e apenas os que me acalmam a alma). Ouvir o som do mar, o chilrear de um passarinho e o crepitar de uma lareira. Dias em que queria sentir apenas o calor do Sol e ao mesmo tempo ouvir o som da chuva. Dias em que não tenha horários para cumprir e possa ser somente eu. De pijama e despenteada, dececionada ou animada. Sem importar o estado de espírito ou ter de engolir sentimentos. Ser somente companhia de mim mesma. Por um dia não vestir uma máscara para agradar, para ser aceite, para não chocar. Quantas vezes temos a coragem de desapontar o outro para sermos verdadeiros com nós próprios? Quase nunca! Quantos de nós não aguentam estar sozinhos porque acham que somente na companhia de alguém estamos completos? Sem dúvida que estar junto de quem gostamos nos completa, nos preenche, nos ocupa, mas bom é nos sentirmos bem, mesmo não tendo ninguém à nossa volta, literalmente. Penso que somente quando aprendermos a ser uma boa companhia de nós mesmo poderemos ser a melhor companhia de alguém. Porque os outros não têm de suprir as nossas carências, não têm de nos fazer companhia para não nos sentirmos sozinhos. Os outros não têm de nos completar pois já nascemos completos. A companhia somente torna os dias mais agradáveis. Não temos de corresponder às expectativas que a sociedade cria. Que uma pessoa só está completa tendo a sua "cara metade" e que nós dois somos só um. Não somos, querido. Para sermos só um, um de nós seria anulado. E eu quero continuar a existir, a ser eu própria. Mas também quero que tu existas e sejas tu mesmo. E o fracasso de uma relação reside muitas vezes na mutação constante de personalidade. Fazemos tudo para agradar que nos esquecemos de ser nós mesmos. E ninguém consegue vestir uma máscara por muito tempo. Tem uma hora que a cara cansa da pintura, os elásticos magoam e a roupa incomoda. Queremos voltar a sentir a brisa no rosto e poder "andar nus" sem qualquer julgamento.
Gosto de andar em "bicos dos pés" porque me desafia. Porque me arrisco, porque não sei se irei chegar ao outro lado composta. Porque as quedas me fazem crescer. Porque a instabilidade me torna mais corajosa. Porque se a vida não tivesse obstáculos tornava-se aborrecida. Porque se tudo fosse uma reta eu adormecia pelo caminho.
Gosto de andar "em bicos dos pés" porque para tê-los assentes na terra eles não precisam de estar no chão.

Soraia Silva

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Desejo inconsciente



Ou a descida da temperatura apenas se faz sentir lá fora, ou não sei o que seja este desejo incontrolável, este calor que sinto nas "entranhas". Ontem olhaste-me com tal intensidade que posso dizer que ainda sinto o tremer das pernas, a sensação da tua mão a percorrer-me a nuca e descendo ao fundo das costas. Não quiseste ser mais atrevido e paraste na minha anca, apertaste-me contra ti e pude sentir-te forte, másculo, cheiroso. Ah! O teu cheiro, está em mim até agora. Ou eu estou a ficar maluca, ou não sei.
Bem a verdade é que nada disto aconteceu. Apenas as tuas habituais brincadeiras de te meteres comigo. Ontem encurralaste-me num canto, e se soubesses o sentimento que desencadeou em mim, talvez não o fizesses. Ou talvez sim, só não ali. A troca de olhares fez-me tremer, eu só não consegui decifrar se os teus sentimentos e desejos eram os mesmos que os meus. Ontem, mais que em qualquer dia, olhaste-me. E eu, que geralmente desvio  o olhar, também te olhei. De cima para baixo, de baixo para cima. Em fração de segundos despi-te a roupa e estávamos noutro lugar. Como é bom sonhar, desejar... não fosse estarmos a trabalhar e termos mais do que dez pessoas à nossa volta, sim, ontem eu despia-te. Apeteceu-me desafiar-te a sairmos dali. Por um dia esquecer as responsabilidades, as obrigações... Hoje vejo-te de novo. Se te convidar, aceitas?

Soraia Silva




terça-feira, 11 de novembro de 2014

Já cheira a Outono



Lá fora assam-se castanhas enquanto no copo gira um pouco de jeropiga. Deveríamos estar no Verão de S. Martinho, mas o meu nariz diz que é inverno. Gelado e vermelho como as minhas mãos que aqueço junto do assador. A família vai chegando, e um a um vão-se juntando e estendendo a mão para mais uma leva de castanhas. Não fosse eu filha de quem sou, e não seguindo as tradições (ou modas), no nosso magusto juntamos também batata doce e que bem que sabe, até me aquece a alma (ou isso serão efeitos da jeropiga?). Cá dentro o ambiente é acolhedor, a melodia da guitarra enche a casa e o calor das gargalhadas "diz" que hoje não se acende a lareira. Apesar de realmente não ligar a tradições, gosto destes momentos, em que um propósito junta a família, e todos fazem uma "ginástica" nos seus horários para estarem presentes. Porque apesar da vida ser corrida, sempre devemos parar um pouco e aproveitar as oportunidades de estarmos juntos. E para mim, estar junto de quem amo não tem preço.

Soraia Silva

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Que frio...



Hoje apanhei uma molha. Não há nada que me deixe mais aborrecida num dia de chuva que ter de sair de casa. Dias de chuva são para passar no sofá, a "comer" séries e "beber" filmes. Uma manta a cobrir os pés e um abraço a aquecer o coração. Purificar o corpo com chá e exercitar a mente com um livro. Hoje sim, era daqueles dias para passar em família, em que as gargalhadas enchem a casa, a conversa cria ambiente e o amor aquece as divisões. Hoje era daqueles dias que eu me deixava aninhar no teu colo e esquecia por momentos a loiça para lavar. Que não te cobrava pelo arranjo da torneira, mas era capaz de passar horas enrolada no teu pescoço. Hoje a preguiça ganhava-me, hoje era dia de namorar, hoje era, se eu parasse de sonhar. Demoras?

Soraia Silva

Desilusões



Porque é que quando gostamos das pessoas nos custa tanto a acreditar que elas estão a mentir. Queria que isso realmente fosse uma mentira. Que não me tivesses desiludido dessa forma. Que fosses a menina/mulher, colega/amiga que eu conheci. Que metade do que me contas-te não fossem invenções tuas. Que o valor da amizade que dizias ter, fosse sentido. Não sei até que ponto vão todas as tuas histórias, mas sei que não consigo nem olhar-te nos olhos. É errado querer que tudo fosse diferente? Seria pedir muito que pessoas não entrassem nas nossas vidas para nos dar um arrombo, nos fazer sofrer sem nenhuma razão aparente de aprendizagem? Porque não consigo tirar nada de benéfico aqui. Não vejo como me poderia ter defendido de tudo isto, porque a pessoa que eu conheci nunca me iria fazer tal coisa. Achava eu. Achava mal. Mas como é que eu te conheci e hoje nem reconheço tão pouco o teu olhar? Estarias a representar? Com que intenção? Mudas-te do dia para a noite? Com que propósito? São muitas dúvidas na minha cabeça e acho que isso é que me está a remoer. Poderia dizer que deveríamos conversar, mas como é que vou ouvir-te sem te escutar? Porque não consigo tão pouco engolir mais uma única palavra vinda da tua boca. A confiança é algo que demora a ser construída, e para mim, uma vez destruída não tem volta possível. E saber isso, por incrível que pareça está a deixar-me triste...

E com este pensamento me despeço por hoje. Boa noite.

Soraia Silva

Criei um blogue



Apesar de relutante em criar algo que acho comum nos dias de hoje, lá decidi (após várias insistências da parte de quem lê os meus textos) criar um blogue. Bem não foi assim tão "fácil e rápido" como indicava na pesquisa do Google. Estava a lanchar e decidi pôr mãos à obra e começar a criar a minha página. A primeira dificuldade? O nome para o blogue. Como é que apenas numa palavra ou frase, eu ia mostrar ao meu público alvo, a ideia que quero transmitir? Pesquisas e mais pesquisas, opiniões e mais pesquisas, nomes disponíveis e já usados, (teria sido bem mais fácil se tivesse criado um quando esta moda surgiu) lá me decidi pelo nome Voa Libelinha.  E porquê? Passo a explicar.
Eu sou do tipo que não gosta do comum, não sou de modas, de seguir tendências só porque sim, de gostar do que os outros gostam só porque é o suposto. Isto para chegar ao nome Libelinha. Quando era miúda todas as meninas na escola gostavam de borboletas e cor-de-rosa. Eu não. Quando adolescente e as meninas faziam inúmeros desenhos de borboletas para tatuar no corpo eu achava aquilo a coisa mais comum do mundo. No entanto havia um "bichinho" que eu achava particularmente interessante, apesar de feio. A libelinha. E por engraçado que pareça num momento da minha vida alguém me deu essa alcunha. Hoje tenho vários detalhes, bijutarias e desenhos com esse mesmo "bichinho". Porque para mim passou a representar a minha liberdade, o meu ímpeto de voar, de atingir os meus objectivos. Prefiro voar como uma libelinha do que utilizar os pássaros para uma metáfora no mesmo sentido. Isto, porque apesar de admirar o canto deles, é um animal por o qual tenho uma certa fobia. Não sei se pelas patas, pelo bico. É algo que eu não sei explicar, mas sim é estranho, eu sou assim. Então porque não usar esse nome no meu blogue? A libelinha sou eu. Não poderia ter escolhido melhor. O predicado voa, surge para me dar força e acreditar que devemos correr atrás dos nossos sonhos. Espero que gostem pois é um presente meu para vocês.

Soraia Silva

Eu não ando bem, não me levem a mal




Não tenho vergonha de dizer o que sinto, não... nunca me irei envergonhar de ser eu mesma, de sentir, de pensar, de sofrer, de rir, de chorar.
Por mais forte que eu tente ser neste momento, não, não estou bem, faltas-me tu aqui. Queria poder dizer que já te esqueci, que não mais penso em tudo aquilo que me faz tornar a ti.

Não tenho vergonha de dizer que o que me faz sofrer neste momento é um homem, “o homem”, aquele que eu queria ao meu lado, o tal, que levamos uma vida inteira à procura. Eu achei-te, e perdi-me...Os dias vão passando e faço um esforço enorme para sorrir, para aparentar andar bem, mas não estou... porque me falta o teu colo, o teu abraço, o teu beijo, o teu eu, e como eu gosto de pessoas que são elas mesmas...

Tenho dias vazios preenchidos com coisas que pouco importam, ocupo-me ao máximo porque achamos sempre que a cabeça ocupada não pensa, mas adiar o sofrimento não é esquecê-lo, não é ultrapassá-lo. Gostava de te perguntar como te aguentas tu? Até que percebo que só eu estou presa a este sentimento.

Acho que sempre fui correta, ou pelo menos sempre tentei.  Acho que dei o melhor de mim, ou pelo menos fui eu. Ironicamente, não chegou... 

Soraia Silva


domingo, 2 de novembro de 2014

Sociedade dos nossos dias


Hoje, mais uma vez a falta de civismo das pessoas chocou-me.
Não sei como ainda me indigna tanto este tipo de atitudes, talvez seja pela educação que recebi dos meus pais, ou pelo facto de conseguir observar as pessoas e não somente olhar, tão distraídos que estamos com o visor do telefone.
Quando era miúda, lembro-me da sensação de passar por um rapaz giro e haver aquela troca de olhares que gera um calafrio pelo corpo. Tão simples somente como um olhar prender-se no outro pelo mútuo interesse visual de duas pessoas.
Eu pergunto-me se as novas gerações sabem ao que me refiro. Como posso sequer observar ao meu redor prendendo o meu olhar de 5 em 5 minutos a um visor? Como ver à minha volta se ao passar um espelho estou mais preocupada com a roupa estar a acentar na perfeição e se o fio de cabelo não levantou novamente com a eletricidade estática? Estamos tão presos ao estereótipo da perfeição e da beleza que nos tornamos feios. Tão simples somente como acharmos que alguma vez será possível ser perfeito.
Mas bem, já estou a divagar. Vamos voltar ao assunto do que quero hoje falar. O civismo das pessoas, ou melhor a falta dele.
Hoje no meu trabalho foi-me pedido que acompanhásse um casal invisual a fazer as suas compras. A falta de civismo e de educação começa por parte de um dos meus chefes que se dirige a mim sem um tão simples e fácil boa tarde. Mais uma vez digo, que a mim esse tipo de atitudes chocam-me, não tivesse eu tido uma boa educação que irei certamente transmitir aos meus filhos. Os meus pais sempre me disseram para nunca me esquecer de palavras básicas como Bom dia/tarde/noite ou um simples Olá, como forma de cumprimento. Desculpe. Obrigado. Se faz favor. Com licença. Acho que com tantas "baboseiras" que saem das nossas bocas durante um dia, dizer estas pequenas palavras na sociedade que nos envolve não nos custa um mínimo esforço. Mas bem para alguns não é bem assim. Passo a citar a abordagem do meu chefe. “Soraia, chega aqui.” E agora é aquela parte em que quem me conhece sabe perfeitamente  o olhar com que me virei para ele. E às vezes quando se diz que um olhar vale mais do que mil palavras, tem a sua quota verdade porque “o olhar” surtiu efeito e sem eu pronunciar uma única palavra ele novamente disse, (um pouco impaciente verdade seja dita): “Boa tarde Soraia, podes chegar aqui?” ao que eu respondo: “Boa tarde, pode falar com maneiras?”, um cliente que se encontrava perto de mim soltou uma gargalhada pela minha afoiteza em responder assim a um superior. Mas na minha educação as maneiras vêm de baixo para cima e de cima para baixo. Não importa a hierarquia, o estatuto social, a profissão, nem qualquer outro tipo de condição na sociedade. Querem respeito, dêem-se ao respeito.
Bem, chefes à parte, lá fui eu de muito bom grado ajudar o casal nas suas compras. Choca-me as pessoas que olham com desdem para alguém com qualquer tipo de deficiência física. A mania de achar que só somos “perfeitos” se tivermos os sentidos todos a funcionar, o cabelo for brilhante e o IMC  tiver dentro dos padrões ditos normais. Para pessoas fúteis este é o conteúdo da perfeição no ser humano. E são tão vazias que por dentro são tão feias que eu não daria 5 minutos do meu dia a conversar com nenhuma delas.  As pessoas são más, não aceitam a diferença nem a diversidade. Só observam o mundo da sua perspectiva. É triste mas é a realidade. E digo isto porque, ao acompanhar o casal pela loja, num dia de movimento, as pessoas estão tão centradas no seu consumismo, no seu ego, nas suas vidas, que não vêem, (as que podem ver) o que está à frente delas. Este casal foi constantemente empurrado, chegando mesmo ao extremo de irem de frente contra um deles porque não se desviou de uma personagem de nome “Você sabe quem eu sou?” que acho que passou a ser o nome mais comum em Portugal em vez do usual Maria ou José. Fora os empurrões, foram inúmeras as pessoas que naquela azafa toda pediam a minha ajuda para achar isto e aquilo, às quais eu gentilmente explicava que estava a acompanhar o casal na visita à loja para puderem efectuar as suas compras como qualquer outra pessoa. Prontificando-me no entanto a chamar outro colega que os pudesse ajudar, as respostas mais do que as expressões de indignação, chocaram-me. Passo a citar algumas: “Não sabia que agora há clientes VIP’s”, “Se não conseguem ter autonomia para andar às compras porque não vêem com alguém que os possa ajudar” , “Se tratassem todos os clientes da mesma maneira teriam de contratar muito mais staff para puderem andar a passear pela loja com os clientes.”
E muitas outras “bocas” e comentários infelizes foram ditos por esta gente que é a nossa sociedade.


Inesperadamente, o casal foi super compreensivo, sorridente e digamos que foram mais eles que me animaram do que o contrário. Lembro-me especialmente do sorriso da senhora  e dos comentários que esta fazia ao avaliar as peças que eu lhe ia mostrando. Mesmo sem ver, esta senhora conseguia me dizer a beleza que via através das suas mãos nos artigos que me ia pedindo, perguntando as cores e a minha opinião, soltando uma ou outra gargalhada foi uma visita inesperada que me deu muito prazer e fez o meu dia valer a pena. Porque ainda há pessoas que conseguem extrair o melhor delas mesmas, mesmo que esteja faltando uma parte importante. Sem dúvida que por pessoas assim, eu darei sempre o meu melhor.

Soraia Silva